
O filme inicia com uma porção de jovens casais dançando ao som daquelas músicas cheias de ritmo e ginga dos anos 60, sobre um fundo rosa que depois se ilumina, mostrando o rosto sorridente de sua protagonista, Betty (Naomi Watts). Corta para a trilha-sonora minimalista e soturna de Ângelo Badalamenti; uma moça apreensiva é conduzida em uma limusine e depois ameaçada sobre a mira de um revolver. Acontece de o veiculo ser atingido por outro carro e a moça – uma morena linda vivida por Laura Harring – sobreviver, sair cambaleando pelos arbustos rumo a Cidade dos Anjos, Los Angeles, e encontrar abrigo na casa de uma atriz de meia idade, que acaba de sair dali em uma viagem a trabalho.
Na seqüência, desembarcando no ensolarado aeroporto da cidade, Betty surge, transbordando de alegria e de anseios pela vida que espera ter ali. A loira simpaticíssima e muito comunicativa quer ser uma reconhecida atriz de cinema, e chega mesmo a dar um passo adiante nos testes que faz, demonstrando que de fato possui jeito para essa profissão. No entanto, no momento em que chega a casa da tia, a atriz de meia-idade que acabou de viajar, se depara com a morena acidentada, que está mais perdida que barata em dia de dedetização. A mulher não lembra o próprio nome, e na falta de um acaba roubando o de Rita Hayworth, ao ver um cartaz do celebre Gilda.
As duas mulheres resolvem se auxiliar na busca de uma identidade para a amnésica, e enquanto isso ocorre, na sub-trama, um diretor de cinema se vê as turras com a máfia, que quer empurrar uma qualquer para o papel principal de seu filme. O mesmo é Adam Kesher (Justin Theroux), que ao voltar do trabalho, após barbarizar o carro dos homens que lhe frustraram os planos encontra a mulher na cama com o sujeito que limpa a piscina. A moça que ele é obrigado a escolher para seu filme é Camilla Rhodes, uma rapariga sem talento aparente.

Essas respostas chegam de repente, e de uma maneira incômoda, quase triste. O expectador percebe que toda aquela trama era uma espécie de sonho, alucinação. A partir dessa revelação, pouco clara para alguns que a assistem, se inicia o estilismo paradoxal de Lynch.

A primeira parte desse drama, com todos seus mistérios e simbolismos inexplicáveis, na verdade foi um sonho seu. Quando fica claro que Camilla Rhodes lhe roubou não apenas o coração, mas também uma chance que tinha de brilhar, Diane contrata alguém para matá-la e depois se arrepende de tê-lo feito. Passa a se corroer pelo remorso e pela perda; tem sonhos ruins, sonhos bons, em que tenta mudar aquilo que viveu e tornar tudo uma história mais cinematográfica, feliz.

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