ESTRELA SOLITÁRIA

DIREÇÃO: WIM WENDERS

ROTEIRO: SAM SHEPPERD

“Estrela Solitária” foi o primeiro contato (e único, até agora) que tive com a obra de Wim Wenders. Motivado pela presença de Sarah Polley – de quem sou fã incondicional – no elenco, fui buscar o filme na locadora e encontrei uma das melhores coisas que já assisti na vida. Escrito por Sam Shepperd, um ator que só há pouco tempo descobri, “Estrela Solitária” (ou Don’t Coming Knocking) é o retrato de uma homem
em reflexão; um astro decadente de faroestes chamado Howard Spence abandona o set de filmagens de seu mais novo filme e ruma para lugar nenhum, sem saber ao certo o que quer ou para onde que ir. Dono de uma trajetória marcada pela inconstância, surtos de violência e excessos, Howard chega a sua cidade natal para reencontrar a mãe, com quem não falava há quase trinta anos.

Interpretada por Eva Marie Saint, a senhora Spence é uma força gigante da compreensão e do amor materno. Alias, em “Estrela Solitária” o que mais reconforta é o valor de suas atrizes e mais ainda de suas personagens: mulheres marcadas por perdas profundas e irreparáveis que têm, cada uma da sua maneira, de lidar com o abandono. Graças a sua capacidade de se desapegar, Howard foi deixando pelo caminho muitas sementes de magoa. Na sua mãe viúva que já vive sozinha há muitos anos; na sua ex-namorada Doreen (Jéssica Lange, ainda deslumbrante); e em Earlie, o filho que não conhecia. De todos, a única que surge motivada mais por um interesse genuíno do que por rancor é Sky (personagem de Sarah Polley que, sim, é o céu), uma jovem que acaba de perder a mãe e anda com as cinzas dela por onde quer que vá.

Sky tem uma ligação com Howard que só é revelada no desfecho, mas é ela, com sua voz doce e de alcance implacável que vai inspirar Earlie a admirar o pai. Outra figura que marca uma presença hilária é o advogado da empresa que produz o filme estrelado por Howard. Percorrendo todo o caminho feito por ele, o homem alcança Howard em um momento crucial: em que este descobre, afinal, possuir um lar, um lugar para o qual retornar depois de um dia de trabalho. É nesse ponto que se pode captar a essência do trabalho de Wenders como diretor, fazendo de seu filme um olhar tocante, mas nunca trágico, de uma vida que em algum momento se perdeu, mas que agora procura retornar às raízes. É o primeiro drama que assisto que emociona por sua leveza e por uma pureza de espírito tão maiores que não apela para nenhum sensacionalismo ou vulgaridade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário