MARGIN CALL – O DIA ANTES DO FIM


Considerando suas qualidades notáveis “Margin Call – O Dia Antes do Fim” entrega seu objetivo, mas não cumpre todas as expectativas. Soa contraditório, mas tentarei ser claro na explicação deste drama sobre as origens da crise econômica americana, que em setembro de 2008, com o colapso financeiro do banco Lehman Brothers gerou uma rede de eventos catastróficos e desencadeou um desequilíbrio a nível global, uma crise econômica grave e de consequências até hoje não sanadas. Explicar a crise, em suas manifestações mais básicas não é tarefa fácil em se tratando de um veiculo cinematográfico, mas desde há algum tempo Hollywood, ou mais especificamente o nicho independente do cinema norte-americano, que não engloba superproduções, vem se dedicando a dissecar a anatomia de sua história recente, através de filmes como “Amor sem Escalas” e este “Margin Call”. J.C. Chandor, o roteirista e diretor trabalha apoiado principalmente, em cima de um elenco, cada qual um rosto conhecido do publico. A partir daí separa seu roteiro através da hierarquia do banco fictício que está retratando e então desenrola as especificidades da trama: Eric Dale (Stanley Tucci) é demitido sumariamente desta empresa na qual já trabalha a quase duas décadas, e antes de sair do escritório com seus pertences, escoltado pelo segurança do prédio, ele entrega á Peter Sullivan (Zachary Quinto), seu subalterno mais próximo um pen drive contendo cálculos recentes sobre a capacidade da empresa de expandir a margem de risco de seus pacotes. Peter descobre os dados no fim do dia, quando decide ficar depois do expediente e investigar o material legado a ele. O rapaz, outrora um engenheiro aeroespacial que abandonou a profissão de formação para ir até onde o dinheiro estava, esboça um modelo descritivo e então repassa ao seu superior direto Will Emerson (Paul Bettany), que trata de passar a informação instantaneamente aos seus chefes – na ordem crescente de poder Kevin Spacey, Simon Baker e Jeremy Irons.

A partir do instante em que o alto escalão do banco toma ciência da armadilha que criou para si mesmo – o valor da provável divida que se cria é maior do que o valor do próprio banco – as decisões passam a ser tomadas baseadas na rapidez frenética da madrugada e de como o dia que se seguirá será crucial para toda a geração presente e provavelmente para a seguinte. Em poucas horas decide-se quem será promovido, quem perderá o emprego e quem receberá a culpa pelo desmazelo em deixar algo tão atroz acontecer. Para quem espera um filme complicado de entender “Margin Call” surpreende e por muitas vezes comove e choca. Os personagens são construídos com riqueza, apesar de demonstrarem seriedade e autocontrole diante da situação, cada um responde de uma maneira diversa em um plano mais pessoal. A cena em que os personagens de Simon Baker e Demi Moore discutem dentro de um elevador, com uma servente de meia idade empurrando um carrinho de limpeza entre eles é certeira na dose de drama: eles rebatem discretamente a acusação um do outro, e por toda a viagem entre os andares a senhora no meio deles permanece alheia a tudo, sem adivinhar que o que ali se destrincha a afetará de uma maneira indireta e prejudicial.

Centrados e calculistas, cada poder maior representado aqui é visto em cenas contidas, mas muito ricas em carga emocional. Existe muita tensão no ar e é perceptível o medo emanado por cada um sobre os rumos que aquelas decisões irão tomar. Mas tais decisões são sempre deliberadas, urgentes e visam principalmente um lucro final. Os homens e mulheres por trás disso pesam o que irão ganhar acima até do que irão perder e geralmente não enxergam o que está além: os outros homens e mulheres que estão em linhas sociais abaixo e que tiveram suas vidas brutalmente modificadas pela crise que este filme tratou de retratar. O que mais “Margin Call” têm de ruim, porém, é o que o justifica: ele retrata um momento muito especifico e deixa as semanas seguintes de fora, o que poderia resultar em um filme colossal, mas diferente. Logo, foi feito um filme excepcional, mas que é integro por não ceder a essa exata tentação de mostrar as consequências de tudo. Porém, continua a ser interessante, para se entender a crise e para compreender o tamanho do drama por trás dela.

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