Namorados para Sempre (BLUE VALENTINE, 2010)

A formula é bem lógica. Relacionamentos sempre irão começar bem e , caso um dia terminem, terminarão mal, com muitos assuntos não resolvidos, magoa e decepção, geralmente de ambas as partes. Namoros, amizades e casamentos, relações fraternais entre parentes, pais e filhos se iniciam com perceptível felicidade. Alguém já viu um pai não ficar feliz e satisfeito com o nascimento de um filho? Ou um menino que acaba de trocar de escola conseguir fazer um novo amiguinho não se descobrir radiante com a nova companhia?
 
Mas então se intromete nessa equação algo chamado tempo, e essas pessoas – e nós mesmos – passam a mostrar características que não havíamos percebido, a fazer e dizer coisas as quais não estávamos acostumados. E a inquietação começará a aflorar em nossa mente e trazer emoções que fariam mais bem se continuassem guardadas. Passamos a dizer coisas sem pensar, a nos desesperarmos com a possibilidade de perdemos aquela pessoa tão próxima, ou pior, de querer aquela pessoa longe e não ter a coragem dizê-lo.

“Blue Valentine” toma o doloroso caminho da derrota conjugal. Daquela forma tão terrível e brutal que conhecemos bem. Cindy e Dean estão casados há cinco anos e já vivem o peso do tempo. Não há ação que se cometa que não denote em Cindy (Michelle Williams) a frustração e o desconforto com o rumo que sua vida tomou, e ela faz questão de deixar isso claro. Mas Dean (Ryan Gosling) nunca percebe que é justamente seu jeito descontraído e seu carinho para com ela que deixa Cindy tão frustrada. Ela quer ousadia da parte dele. Ele quer apenas que ela o ame.

Dirigido e escrito por Derek Cianfrance e co-roteirizado por Joey Curtis e Cami Delavigne, “Blue Valentine” é o filme mais lindo e mais terrivelmente triste que já assisti. Não tem canto de nosso coração que não seja atingido por aquela sensação de perda, de coisas que não foram ditas. Acredito que só vi uma angustia assim em “Closer – Perto Demais”. Ryan Gosling tem uma interpretação muito boa, romântica e sofrida. Já Michelle Williams se permite vários momentos de brilho com um desempenho cheio de sutilezas, hora antipático, ora sonhador e por vezes amargurado. Não é um filme com final feliz, como o escabroso título em português indica, mas não querendo tirar o mérito das produções que seguem a linha do felizes para sempre, “Blue Valentine” é de uma coragem e de um romantismo tão reais, e filmado com matizes tão sinceras, que é difícil ficar indiferente ao que ali é apresentado. E a cena final mostra, sobretudo, o que se perde quando duas almas resolvem seguir separadas no tortuoso labirinto da vida. 





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