Não
a nada que a imaginação não faça pelos sentidos sexuais. É
possível fazer um bom filme sobre sexo sem ser explicito na
abordagem deste? “A Bela da Tarde” responde essa indagação com
uma belíssima direção do espanhol Luis Buñuel, que filmou essa
obra antes que o cinema fosse libertado das rédeas da censura, no
fim da década de 60. Esse é o primeiro filme que assisto desse
cineasta, e também o primeiro com Catherine Deneuve, mas mesmo que
fosse o único já valeria por toda uma vida. Que textura, que cor. E
também que vigor dramático e que estilo de linguagem.
Sevérine
é uma jovem esposa na Paris da década de 60, casada recentemente
com Pierre, um médico importante e requisitado a quem ama, mas com a
qual não consegue se conectar intimamente. A moça é carinhosa e
romântica, mas quase gélida em termos físicos. O marido mostra-se
pacientemente, mas evidentemente frustrado com sua relativa distancia
emocional, permitindo-se no máximo um beijo na esposa antes de
dormir, já que ambos dormem no mesmo quarto, mas em camas separadas.
Certo
dia, Sevérine houve da boca de um amigo de Pierre, sobre um discreto
e requintado prostíbulo em Paris, e queima de curiosidade e
excitação, chegando até a perguntar ao marido se este frequentava
tais lugares antes do casamento. Em dado momento é perceptível a
luta interna que a protagonista trava, dividida entre a esterilidade
segura de seu matrimonio e a atraente descoberta do sexo humilhante e
perverso, que parece ser o que mais lhe convém. Essa abordagem do
fetiche sexual será o fio condutor de todo o filme, até seu final
indescritível.
Luis
Buñuel dirigiu um marco do erotismo velado, que desperta os sentidos
e nos faz deixar a mente voar por lugares densos e desbravadores.
Praticamente nada é mostrado, e o pouco que se vê é a silhueta de
Catherine Deneuve nua, em um dos usos mais poéticos do corpo
feminino já feitos em um filme. O cineasta utilizou as maneiras mais
incríveis para fotografar sua atriz principal. Uma grande atriz
aliás, que com pouquíssimos gestos e já nas primeiras cenas
conseguia hipnotizar o expectador.
“A
Bela da Tarde” soa misógino em vários pontos de sua projeção,
mas é tão sutil na demonstração dessas perversões contra a
mulher, para a mulher e compartilhadas com a mulher que esquecemos
quase instantaneamente que é muito fácil julgar o desejo alheio, e
quase impossível controlar – ou até explicar o nosso próprio –
e dentro desse esquema de sujeição percebemos o quão delicado foi
o trabalho desse diretor e de sua atriz, ela própria um fetiche
nacional em retratar tal sentimento humano.
Interessantíssimo seu relato e só me deixou com mais vontade de ler este clássico! parabéns!
ResponderExcluirLegal,50 anos.
ResponderExcluirO anônimo quer ''ler'' o filme.
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