TRANSÁMERICA (2005)




A jornada da protagonista de “Transamérica” é tocante e profundamente tensa. Existe humor o suficiente no filme de Duncan Tucker para quebrar o gelo da temática do filme, que não deixa de ser delicada. Bree Daniels é um transexual em processo de transição, está prestes a fazer sua ansiada cirurgia de mudança de sexo, já passou por grande parte das fases desse difícil processo, incluindo sessões com sua psicóloga e exames psiquiátricos. Enfim, após anos de luta burocrática e financeira, a personagem conseguiu chegar ao momento chave, faltam apenas dias para o evento, quando recebe uma ligação informando de um jovem, que foi preso e deu seu endereço e numero como contato de emergência. O rapaz chamado Toby (vivido por Kevin Zegers) é na verdade fruto do passado de Bree quando ainda se vestia e agia como homem, filho de sua relação com uma amiga da faculdade.

Contrariada, mas atendendo ao pedido de sua psicóloga, Bree vai em socorro de Toby e encontra um garoto que vive de maneira caótica, mas que ainda sim possui objetivos de vida muito bem definidos, apesar de exóticos. Toby é selvagem ainda, resultado de um lar complicado e da convivência constante com o mundo das drogas e da prostituição, mas é também um rapaz doce que se propõe a embarcar numa viagem com Bree para a promessa de um futuro melhor. Esse Road movie será não apenas a trilha que levará o rapaz á compreensão de quem ele é e de sua verdadeira família, mas a estrada que transformará Bree na pessoa que ela deseja ser, ainda que o caminho seja extremamente doloroso, e angustiante por vários momentos.

Duncan Tucker imprimiu cor e muitos momentos suaves nessa trajetória, como a grata carona que os dois conseguem com o nativo sherokee interpretado pelo excelente Graham Greene, que faz as vezes de interesse romântico de Bree, sem saber que ela é um homem. A cena em que responde a insolência de Toby dizendo que “toda mulher tem seus segredos” é uma referencia ótima ao clássico “Quanto mais quente Melhor” e ao personagem travestido de Jack Lemmon. Mas o tom é pesado nos momentos em que Bree têm de retornar á sua família e as pressões que esse encontro acarreta. Essas cenas são as mais difíceis em termos dramáticos, pois todos os personagens envolvidos têm de encarar o passado e o presente e lidar com o resultado das transformações surgidas desde então.

Felicity Huffman, que interpreta Bree, recebeu uma merecida indicação ao Oscar, além de conquistar um Globo de Ouro pelo trabalho. E encarnou a confusão e a coragem de desafiar o mundo externo em prol do bem estar pessoal e da consciência, expondo-se de maneiras emocionalmente horríveis e sofrendo o dobro pela escolha que fez. É o tipo de desempenho precioso, e quem admira Felicity deve imaginar a dificuldade que a atriz deve ter tido, sendo mulher de encarnar um papel tão diverso e que exige um evidente esforço de imersão (a cena em que Bree têm de puxar a cadeira para a mãe vale pelo filme todo e resume rapidamente o sentido de tudo). Percalços a parte “Transamérica” pode ser compreendido como filme de nicho, mas deixa na memória um personagem memorável e tocante.

Um comentário:

  1. Já assisti Transamérica e, realmente, é um filme tocante. É daqueles filmes que sempre dá vontade de assistir de novo.
    Fala também muito sobre o preconceito e as decisões em suas escolhas. Um prato perfeito para quem vive em dúvida.
    Adorei a resenha. ^^

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