O Despertar de uma Paixão (The Painted Veil, John Curran - 2006)


O gênero romance para mim tem que possuir um fundo inusitado, distante do obvio. Para mim um filme romântico tem de ser bem mais lógico que um suspense. Portanto aquelas duas pessoas, colocadas durante duas horas na tela têm que ter uma razão consistente para se apaixonarem e um motivo distante do que se espera para se encontrarem (se eu quisesse um romance clássico eu me sentaria no meu muro todos os dias e observaria à vizinha e seu namorado trocando carinhos).

O Despertar de uma Paixão” chega bem perto do piegas e depois recua, preferindo ser um filme visivelmente deslumbrante, com interpretações que funcionam. Adaptado da obra de W. Somerset Maughan “O Véu Pintado”, o filme conta como Kitty (Naomi Watts), uma moça mimada, casou-se com Walter (Edward Norton), um bacteriologista voluntarioso, e seu exato oposto, por mero medo de ficar para titia. Como se espera, ela acaba se enfadando do marido, que é um homem bastante polido e econômico em emoções e tendo um tórrido caso com Charles, o vice-cônsul da Inglaterra em Xangai, para onde Kitty e novo marido partem para uma vida estéril e um casamento mal-fadado.

Quando descobre a traição da esposa, Walter tem uma idéia das mais originais (e que a maioria dos traídos e traídas deveriam ter): leva a adultera para o interior da China onde uma vila de pescadores está passando o diabo às voltas com uma epidemia mortal de cólera. Mas Walter quer mais, quer que a mulher se foda e além de não vacinar a pobre, ainda a leva até ali pelo caminho mais difícil possível. Bem feito para ela, não é? Quem mandou me chifrar?
Mas quando chegam ao lugar, à vida não apenas é ainda mais deplorável – só para se ter uma idéia, eles preferem beber uma garrafa inteira de pinga do que colocar uma gota d água na boca, com medo de serem fulminados pela doença que devasta a região – como também serve para transformá-los. Kitty, muito dolorosamente, vai descobrir que ali não é lugar para mimos, para egoísmo e que (o que eu imagino ser o mais triste para ela) dificilmente vai encontrar outro amante bonitão como aquele interpretado por Liev Schreiber, marido e pai dos rebentos de Naomi Watts na vida civil. Além de tudo, os nativos odeiam estrangeiros e até tentam linchar (ou comer, sei lá), Kitty, em certa ocasião.

Aos poucos, porém, marido e esposa irão descobrir que podem se completar. E aquela couraça de indiferença se desfaz em uma cena muito comovente onde ambos se amam verdadeiramente pela primeira vez. Se descortina então, todo um cenário de cores onde romance anda de mãos dadas com a tragédia. O filme ganhou o Globo de Ouro muito merecido de trilha-sonora, mas não deu nenhuma indicação ao Oscar aos seus protagonistas, Naomi e Edward, também produtores do filme, uma pena, porque é um romance bem agradável, apesar do final triste.


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