Em tudo que possui de
superlativa, a ideia que dá o mote da trilogia “Jogos Vorazes” é a reciclagem
sábia e moderna da boa literatura (em especial “O Senhor das Moscas” de William
Golding, Nobel da Literatura) e de referencias populares ao cinema e á
televisão atuais. Foi um livro que me pegou desprevenido, visto que eu já havia
assistido ao filme e esperava algo no teor de “Crepúsculo”. Mas como geralmente
ocorre com os bons livros que geram filmes razoáveis, esse aqui apenas de longe
lembra a produção que originou. Vale dizer que só um diretor deveras amador
conseguiria estragar um material tão frenético e cinematográfico quanto os
livros que Suzanne Collins escreveu e que destoam em qualidade e ritmo dos
escritos por Stephanie Meyer. A comparação entre ambas soa até absurda quando
se têm a oportunidade de analisar as duas séries: Stephanie Meyer desdobrou e
prolongou uma história repetitivamente até a exaustão, fez e desfez da
mitologia dos vampiros como se esta fosse criação sua e escreveu mal, mas muito
mal mesmo uma tetralogia que desde o primeiro capitulo já entregava o que
aconteceria no ultimo, de tão previsível.
Suzanne Collins é diferente até
de nomes mais celebres da escrita juvenil atual, como Rick Riordan, Meg Cabot e
mesmo J.K. Rowling, pois possui uma escrita mais concisa, unificada e própria,
voltada para conflitos superiores, mas não deixando de misturá-los à complexas
divagações pessoais, e tece a jornada de sua heroína escrevendo em primeira
pessoa, o que resulta em êxito estilístico e em um bom fluxo de leitura. E,
acima de tudo, escreve com desenvoltura uma trama que serve como inspiração ao
idealismo moderno. Quando fala de crianças e jovens jogadas contra a própria
vontade em uma arena, para lutarem como gladiadores até que apenas um saia
vivo, Suzanne está sinalizando para uma transformação extrema de paradigmas e
para a formação de uma personalidade para além das fronteiras do comodismo.
Para quem viu em “Jogos Vorazes”
apenas uma boa idéia, com um triangulo amoroso como papel de parede – e boa
parte das resenhas que eu li pesaram para esse caminho raso – não puderam
cometer deslize maior. Se por um lado o livro enumera diversas seqüências de
ação, sensacionais por sinal, e outras tantas de tensão romântica e física
entre seus personagens, por outro ele faz uma analise de uma sociedade sob o
signo da ditadura, através dos olhos confusos de Katniss Everdeen, que assume o
lugar da irmã para ingressar nessa competição televisiva, onde todos têm que
planejar uma maneira eficaz de exterminar o outro, ou na melhor das hipóteses
permanecer vivo. Imaginar-se no olho desse furacão, com todas as implicações
emocionais que acarreta é o que de melhor o leitor pode fazer pela obra.
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