Se o coração de todas as histórias sobre Batman encontra-se na versão apocalíptica do curinga de Heath Ledger em “O Cavaleiro das Trevas”, o corpo desse super-herói pode ser visto facilmente na psicodélica produção de 1992 sob a direção de Tim Burton. Esqueça das demais versões insípidas que até hoje são motivos de riso e quase levaram a fama do personagem para o lixo na década de 90. Com os dois filmes de Christopher Nolan e este, Batman ganha peso, evolução e entendimento. São meus filmes preferidos no gênero e os que dão uma posição clara do universo que envolve o homem morcego. Em “Batman – O Retorno” temos um aparato de vilania que faz de Gotham City um buraco negro de corrupção, marginalidade e desequilíbrio. Vistos em conjunto, o Pingüim, a Mulher Gato e Max Shreck são figuras espelhadas e até conseqüências um do outro. Pingüim, ou Oswald Cobblepot (Danny DeVito) é uma caricatura mortífera provinda de um abandono profundo e que têm de lidar com a eterna rejeição á sua aparência deformada e que com a violência que esse sentimento acarreta atrai para si todas as almas enjeitadas e corruptíveis de Gotham. Não é surpresa, portanto, sua união política com Max Shreck (Christopher Walken), empresário que se veste de benfeitor para tramar os piores planos contra a cidade que o abraça.
Christopher Walken é admirável por trabalhar em cima de um fator determinante de seu apelo: a repugnância que emana de sua pessoa, e que soa pior até do que a repugnância natural e tingida de rancor que advém do Pingüim, que sempre exala o odor do esgoto e do desejo de vingança. São sentimentos diversos, então, que vão mover esses vilões. Pingüim que descobrir suas origens e ser aceito junto ao povo que o abandonou no passado, reagindo com esperada revolta quando essa receptividade se volta contra ele. Max quer que o poder migre totalmente para suas mãos, sem imaginar que essa ambição o torna uma mascara do terror, capaz dos métodos mais revestidos de maldade: a cena em que empurra sua secretaria Selina Kyle de um dos últimos andares do arranha-céu onde se encontra sua empresa é de uma ausência de pudor e caráter total.
Já Selina Kyle é a representação da frustração pessoal que ecoa na sua aparência descuidada, na falta de afetação e em seu próprio apartamento, que pareceram cristalizá-la em uma vida solitária. Quando Max a empurra para á morte e ela retorna toda personificada em uma nova versão, o filme encontra seu rumo e fecha o circulo formado por Batman e os algozes de Gotham City. A Mulher Gato vem a ser uma das versões mais destruídas de um vilão, que é ao mesmo tempo vitima contumaz de suas próprias ações e ainda, uma pessoa engolida pela própria anarquia adormecida dentro de si, tanto que chega ao ponto de não saber o que quer ver destruído: se Batman ou o resto da cidade. Há de convir que Michelle Pfeiffer ficará eternizada, ao lado de Heath Ledger, como uma força selvagem da corrupção pessoal e que com suas próprias personalidades – ele anárquico, ela sensual – fazem o filme andar. Aqui não é Batman/Bruce Wayne que explica o que se passa em Gotham, mas sim seus vilões.
“Batman – O Retorno” é todo caracterizado pela direção de arte de Rick Heinrichs e a sempre psicologicamente exótica trilha de Danny Elfman. Com essas peculiaridades, sempre evidentes, Burton soma um pouco á essência do filme, de tornar o cenário de Gotham City a própria manifestação do apocalipse moderno. Assisti pela primeira vez “Batman – O Retorno” quando tinha 6 anos e hoje, com 22, continua a me parecer uma viagem á loucura urbana e a podridão do caráter de alguns. É um belo trabalho e único por si. Até não vale compará-lo com o que é feito hoje por Christopher Nolan, por que também este tratou de dar nova roupagem ao Cavaleiro das Trevas. Para sua época, esta produção entregou com folgas, tudo que tinha a dizer sobre o universo de Bob Kane.
esse filme é perfeito.
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