Há
quem diga que crescer é difícil. Acredito que o mais difícil é se
perceber grande, quando se já o é há tempos. A maturidade chega
para alguns cedo, e para a maioria um pouco tarde, mas nesse meio
tempo sempre existe um momento que configura essa transição e
funciona como um espelho que reflete passado e futuro em uma só
imagem. Charlize Theron, uma das melhores atrizes de nossa geração,
interpreta Marvis Gary, uma mulher de 37 anos, divorciada e dona de
uma carreira outrora fulgurante como ghost-writer de uma série de
romances adolescentes, mas que atualmente parece não saber seu lugar
no mundo. Quando o filme começa Marvis parece deslocada em sua
própria vida, desconfortável até. Mas nem esse desconforto a tira
de seu comodismo arrogante, já que ela considera sua vida bem melhor
do que a da maioria das pessoas já que, no seu ponto de vista ela
alcançou o que muitos na sua idade ainda almejam: independência,
liberdade financeira e talento.
Ainda
que se mostre cega para com seus defeitos e seu egoísmo extremo,
Marvis sabe que sua independência possui um preço, que sua
liberdade é acompanhada de uma boa dose de solidão e que seu
talento está sendo posto em xeque, visto que a série que ela ajudou
a escrever está sendo cancelada e ela é ainda pressionada pelo
editor a finalizar o ultimo romance. Mas essa consciência de si é
afogada e escondida nas profundezas de sua personalidade narcisista:
ela nunca deixa a peteca cair, mesmo quando sente que não existe
outra saída a não ser a humilhação. Quando é abordada, Marvis se
coloca na defensiva, usa a beleza fulgurante que ainda possui para
aplainar as grosserias e alfinetadas que dirige contra os outros, e
vive de encontrar uma desculpa para o próprio comportamento.
Quando
recebe o convite de um ex-namorado para a festa de aniversário da
filha deste, que nasceu há poucos meses, Marvis quase enlouquece.
Como nada do que havia planejado para si se concretizou em um todo
ela decide que é hora de retornar ao básico e resgatar do passado
uma das coisas boas que tinha, qual seja: o homem que agora é casado
e pai de um bebê. De volta a Mercury, sua cidade natal, no interior
do Minnesota, Marvis vai ter de encarar o fato de ninguém ali lhe
acha tão especial, de que a intimidação que causava nas pessoas
quando era a garota mais popular da escola já não funciona e que o
homem que ela acredita ser o certo para ela está muito feliz com a
mulher que escolheu para dividir sua vida. Marvis encara tudo isso,
mas decide instantaneamente escrever sua própria realidade dos
fatos, sempre visualizando sua felicidade e esquecendo das pessoas
que pode machucar pelo caminho.
Chegando
em Mercury, a moça encontra em um bar Matt (Oswald Patton), um
ex-colega de escola, de quem não era amiga e que teve a adolescência
marcada por uma brutalidade terrível. Matt é encouraçado naquele
momento de sua vida e assim como Marvis, dirige certo rancor para
aquelas pessoas que transbordam otimismo ou realização pessoal.
Nenhum dos dois é realizado, apesar de ambos terem vidas tranquilas,
e no caso de Marvis, até invejáveis. Esses personagens, que
compartilham frustrações similares, mas diferentes nas suas
definições irão se encontrar em certo ponto do filme, em uma cena
que considero uma das mais lindas já feitas. Cada um sairá
modificado, mas nem tudo se transformará. Marvis têm a
personalidade que sempre a definiu, e ainda que pareça se dar conta
do que fez, ainda sairá com um tantinho de indiferença pela
felicidade alheia.
“Jovens
Adultos” é um filme obrigatório para as pessoas que buscam uma
resposta para sua vida estagnada, seja ela bem sucedida ou não.
Dirigido por Jason Reitman, de “Amor sem Escalas” e “Juno”,
filmes também sensacionais, a comédia têm a vantagem tremenda de
contar com uma atriz que se mostra muito á vontade com o personagem
principal. Arrisco até dizer que este é o melhor trabalho de
Charlize Theron até aqui e não vale nem a pena mencionar a omissão
das premiações com relação ao seu desempenho. Diablo Cody, a
roteirista de “Juno” faz aqui outra parceria com o diretor, em um
script que nada a dever ao aclamado “Juno”.
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