A
jornada da protagonista de “Transamérica” é tocante e
profundamente tensa. Existe humor o suficiente no filme de Duncan
Tucker para quebrar o gelo da temática do filme, que não deixa de
ser delicada. Bree Daniels é um transexual em processo de transição,
está prestes a fazer sua ansiada cirurgia de mudança de sexo, já
passou por grande parte das fases desse difícil processo, incluindo
sessões com sua psicóloga e exames psiquiátricos. Enfim, após
anos de luta burocrática e financeira, a personagem conseguiu chegar
ao momento chave, faltam apenas dias para o evento, quando recebe uma
ligação informando de um jovem, que foi preso e deu seu endereço e
numero como contato de emergência. O rapaz chamado Toby (vivido por
Kevin Zegers) é na verdade fruto do passado de Bree quando ainda se
vestia e agia como homem, filho de sua relação com uma amiga da
faculdade.
Contrariada,
mas atendendo ao pedido de sua psicóloga, Bree vai em socorro de
Toby e encontra um garoto que vive de maneira caótica, mas que ainda
sim possui objetivos de vida muito bem definidos, apesar de exóticos.
Toby é selvagem ainda, resultado de um lar complicado e da
convivência constante com o mundo das drogas e da prostituição,
mas é também um rapaz doce que se propõe a embarcar numa viagem
com Bree para a promessa de um futuro melhor. Esse Road movie será
não apenas a trilha que levará o rapaz á compreensão de quem ele
é e de sua verdadeira família, mas a estrada que transformará Bree
na pessoa que ela deseja ser, ainda que o caminho seja extremamente
doloroso, e angustiante por vários momentos.
Duncan
Tucker imprimiu cor e muitos momentos suaves nessa trajetória, como
a grata carona que os dois conseguem com o nativo sherokee
interpretado pelo excelente Graham Greene, que faz as vezes de
interesse romântico de Bree, sem saber que ela é um homem. A cena
em que responde a insolência de Toby dizendo que “toda mulher tem
seus segredos” é uma referencia ótima ao clássico “Quanto mais
quente Melhor” e ao personagem travestido de Jack Lemmon. Mas o tom
é pesado nos momentos em que Bree têm de retornar á sua família e
as pressões que esse encontro acarreta. Essas cenas são as mais
difíceis em termos dramáticos, pois todos os personagens envolvidos
têm de encarar o passado e o presente e lidar com o resultado das
transformações surgidas desde então.
Felicity
Huffman, que interpreta Bree, recebeu uma merecida indicação ao
Oscar, além de conquistar um Globo de Ouro pelo trabalho. E encarnou
a confusão e a coragem de desafiar o mundo externo em prol do bem
estar pessoal e da consciência, expondo-se de maneiras
emocionalmente horríveis e sofrendo o dobro pela escolha que fez. É
o tipo de desempenho precioso, e quem admira Felicity deve imaginar a
dificuldade que a atriz deve ter tido, sendo mulher de encarnar um
papel tão diverso e que exige um evidente esforço de imersão (a
cena em que Bree têm de puxar a cadeira para a mãe vale pelo filme
todo e resume rapidamente o sentido de tudo). Percalços a parte
“Transamérica” pode ser compreendido como filme de nicho, mas
deixa na memória um personagem memorável e tocante.
Já assisti Transamérica e, realmente, é um filme tocante. É daqueles filmes que sempre dá vontade de assistir de novo.
ResponderExcluirFala também muito sobre o preconceito e as decisões em suas escolhas. Um prato perfeito para quem vive em dúvida.
Adorei a resenha. ^^