COISAS BELAS E SUJAS

Dirty Pretty Things - Inglaterra/2002 - 107 min.

Adoro os filmes com a Audrey Tauteau. É uma atriz cool, globalizada, ultra-requintada e verossímil. Filmes de personalidade como “Amar... Não tem Preço”, “Eterno Amor” e, sobretudo “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” (sobre o qual escreverei em breve) dificilmente seriam tão especiais se não fossem sua presença em cena. E “Coisas Belas & Sujas”, não foge a regra. É um drama muito bem desenvolvido e dirigido, tanto que concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2004 – perdendo para “Encontros e Desencontros” de Sofia Coppola, pelo qual sou apaixonado.

Dirigido pelo britânico Stephen Frears, um cineasta muito competente e que é bastante econômico em suas narrativas, “Coisas Belas & Sujas” se passa em uma Londres que poucos vêem em outros filmes, mas que invariavelmente existe sim, com toda sua corrupção e obscuridade. São cozinhas de hotéis, lavanderias, fundos de bar, e pessoas que vivem transitando nesse submundo sem serem percebidas pelo resto da sociedade, são os acessórios, e como o próprio protagonista diz “somos aqueles que limpam seus quartos de hotéis, que lavam seus carros e chupam seus paus”. É uma vida ingrata e uma maneira sórdida de sobreviver, tendo que, muitas e muitas vezes, abdicar da dignidade, dos sonhos e do próprio corpo, ou parte dele.

Até onde vai o direito de ir e vir e buscar um objetivo de vida, sem que no caminho se perca tudo de bom que se têm? Os personagens aqui são estrangeiros em Londres, imigrantes que fugiram de algo ou de alguém e que estão ali ilegalmente. Okwe (Chilwetel Ejiofor) era médico na Nigéria, mas ali ele dirige taxis clandestinos de dia e trabalha na portaria de um hotel de quinta, à noite. No mesmo lugar trabalha como camareira Senay (Audrey Tauteau), uma imigrante turca que aluga seu sofá para o amigo nigeriano, apesar do receio de uma batida dos Agentes da Imigração. Os dois têm uma relação bonita, amigável e que seria bem próspera se não fosse à necessidade constante de “sobreviver”. Para pessoas que vivem de subemprego, que temem serem presas e extraditadas e voltar para um passado que não querem reviver não há tempo para se apaixonar, conviver e se relacionar com as demais.

Certa noite, ao tentar desentupir o vaso sanitário de um dos quartos do hotel, Okwe se depara com um coração humano intacto, e descobre como ele foi parar ali: o gerente do hotel é um traficante de órgãos, que logo depois de ouvir a tentativa de Okwe de comunicar o ocorrido a policia o chantageia, insistindo para que ele participe na próxima cirurgia e ganhe uma percentagem da venda do órgão. Okwe recusa, mas se vê obrigado a entrar nesse jogo sinistro quando Senay, desesperada em conseguir um passaporte, decide ela mesma doar um rim.

“Coisas Belas & Sujas” é criativo já no título, pois resume o filme em quatro palavras. A beleza das relações é mostrada em cenas de fato muito bonitas, como a despedida de Okwe e Senay no aeroporto e um almoço que eles compartilham juntos em certa ocasião. E a sujeira também aparece na pessoa de Juan, o inescrupuloso gerente do hotel. Choca bastante, mas em certo ponto percebe-se que mostrar aquilo se faz necessário.

Um comentário:

  1. O filme é muito bom. Apesar da história se passar em Londres, abre espaço para debater a imigração em qualquer país. Tem uma crítica em www.artigosdecinema.blogspot.com/2014/05/coisas-belas-e-sujas-dirty-pretty-things.html

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