Era
meia-noite na Floresta Uivante. O vento sibilava sobre a copa das
arvores seculares. Subitamente algo enorme colidiu, e ressoou através
da floresta misteriosa.
Um
filme inesquecível para aqueles que o assistiram inúmeras vezes
desde seu lançamento e nas constantes exibições durante as tardes.
É um trabalho autoexplicativo e monumental do alemão Wolfgang
Peterson, mas nem por causa de sua simplicidade narrativa deixa de
ser inventivo na condução de sua trama, baseada no romance homônimo
de Michael Ende. A produção contou com uma equipe basicamente
europeia e um bom elenco de atores desconhecidos. A direção de arte
é um capitulo único, pois concebe um mundo fantasticamente
realístico, e igualmente assombroso em seus detalhes. É uma
história fantasiosa, mas que não deixa de passar verossimilhança
na abordagem de seus personagens, todos impelidos pela curiosidade em
descobrir uma fronteira nova.
“A
História sem Fim” possui dois protagonistas. O primeiro deles é
Bastian (o fofo Barret Oliver), um garoto retraído, mas inteligente,
dono de uma imaginação hiperativa e totalmente diferente dos
garotos de sua idade. Quando o filme inicia Bastian está acordando
de um sonho que teve com a mãe, morta recentemente, e quando senta a
mesa do café da manhã e conta ao pai o acontecido este pede
delicadamente, mas com ar de seriedade, que o filho deixe o passado
para trás, e mais ainda o mundo dos sonhos e da imaginação, ao
qual o menino visita frequentemente na forma de leituras dos
clássicos da literatura como “Robinson
Crusoé”
e “As
Vinte mil Léguas Submarinas”.
É compreensível o cuidado do pai, já que a necessidade de
sobrevivência, do trabalho e das contas a pagar o deixa sem tempo
para aprofundar a relação com o filho, ainda mais agora que ele tem
de desempenhar o papel que também era da mãe. Logo, se tornará um
trabalho a menos se Bastian amadurecer mais rapidamente, e aprender a
se proteger dos perigos cotidianos como a violência juvenil e as
drogas, e aprender responsabilidades que futuramente possam lhe
garantir uma vida sem a dependência do pai.
Assim
que Bastian sai para o colégio, seus colegas brutamontes o perseguem
pelo bairro e o jogam em uma lata de lixo, algo que se repete quase
que diariamente. No dia em questão o menino se refugia em uma
livraria antiga, chamada Koreanders, onde um senhor de óculos e
cachimbo na mão o informa que está no lugar errado, já que o
fliperama fica no fim da rua. Bastian retruca que conhece os livros,
e que os têm aos montes em sua casa. O homem logo se interessa e
percebe imediatamente que o menino é especial. Os dois iniciam uma
conversa envolvendo o livro que o velho está lendo, e que ele
garante ser uma obra diferente das demais, perigosa inclusive. Parece
obvio que ele diz isso para aguçar os sentidos de Bastian e o menino
sai da livraria com o volume sob o moletom, enquanto o livreiro se
vira para atender ao telefone.
Na
escola, Bastian foge da aula de matemática, e se esconde no sótão,
um lugar calmo, repleto de objetos antigos e de teia de aranha e ali
inicia a leitura do livro surrupiado. É apresentada Fantasia, uma
terra sem limites entre o possível e o imaginável, repleto de
esplendor e onde criaturas dividem o espaço com a grandiosidade da
natureza. Uma natureza avassaladora e unida pela figura virginal da
Imperatriz Menina, a soberana deste reino, que encontra-se doente,
devido á um mal que parece implodir os alicerces de Fantasia e que
ameaça engolir para o vazio cada ser vivo. A Torre de Marfim,
coração orgânico de Fantasia, recebe a visita desesperada dos
diversos seres cujas terras estão sendo devastadas e que foram ali
em busca de uma explicação e uma solução para o problema. É
chamada a única pessoa que pode impedir que isso ocorra: Atreyu
(Noah Hathaway), guerreiro do povo das planícies, uma raça de
homens que vivem de caçar um ser mítico conhecido como o Búfalo
Púrpura. Quando Atreyu responde a convocação e chega ao terraço
da Torre de Marfim todos exclamam em uníssono: o guerreiro não
passa de um garoto. Mas a urgência da situação deixa da descrença
de todos de lado. Atreyu agarra a missão, deixando suas armas para
trás e partindo em busca da cura para a doença da Imperatriz, tendo
apenas seu amado cavalo Artax como companhia.
Toda
a trama será retratada na corrida de Atreyu contra o tempo em
contagem regressiva e na ansiedade crescente de Bastian em desvendar
o final dessa historia maravilhosa. Eles se reconhecerão em um ponto
da trama em que o valor da imaginação é posto em xeque, e na qual
é vital que realidade e sonho andem de mãos dadas na mente do
homem. Do contrario haverá a morte da criação e das coisas belas
que elas trazem, da literatura, da musica, da arte. A imaginação é
a principal ferramenta do homem para a evolução de uma civilização
e nenhuma metáfora é mais bela que a cena em que Artax e Atreyu
atravessam um pântano. Atolados no lodo e na lama, ambos têm de
persistirem com coragem e disposição, do contrario serão dominados
pela tristeza e afundaram. Artax desiste, Atreyu permanece, ainda que
arrasado.
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