“o
vento, as cidades e as flores, todos nós dançamos em uma só
unidade”
A
personagem de Chihiro é baseada na filha de um amigo de Hayao
Myazaki, que frequentava a casa de veraneio do diretor quando era
criança. Myazaki se inspirou na ideia da ingenuidade pura e da
natureza despreocupada da infância intocada pelo mundo para criar a
protagonista desta animação. O Japão de décadas passadas serviu
de inspiração para o cenário que ilustra está produção,
ganhadora do Oscar de Melhor Animação em 2002. Quatro anos separam
“A Princesa Mononoke” deste filme e durante esses anos seu
diretor ponderou seriamente abandonar a carreira por motivos de
saúde. Seria uma perda em tanto para o cinema, já que Hayao é um
dos poucos artistas que ainda trabalham na linha de animação
desenhada artesanalmente. O saldo é evidente, já que tais filmes
gozam de um primor estético invejável que fazem o expectador
emergir em um mundo original, repleto de detalhes fantasticamente
estáticos. Ao contrario da computação gráfica, nem tudo nos
desenhos tradicionalmente feitos á mão se mostram em movimento, e
isso inspira a quem assiste á imaginar o uso do objeto.
No
centro da trama está Chihiro, uma criança magoada com a mudança
para uma nova casa, e uma nova vida. Chihiro se mostra descontente e
até reticente com as novidades. Seus pais entendem seus motivos, já
que ela era cheia de amigos na escola antiga e gostava de sua rotina.
Na estrada, o pai da menina para na frente de um túnel, uma passagem
que dá para um saguão antigo, que lembra o interior de uma igreja,
com bancos e janelas de losangos coloridos. O lugar transmite
antiguidade e solidão, e ao longe se houve o barulho de um trem. O
saguão desemboca em um verde e deslumbrante campo, fustigado pelo
vento e iluminado por um céu azul com poucas nuvens. Chihiro fica
com medo de entrar no túnel, mas se vê obrigada quando os pais
seguem em frente.
A
família anda pelo campo, passam por um rio seco e sentem cheiro de
comida ao longe, descobrindo uma cidade deserta, com restaurantes por
todos os lados. Os pais de Chihiro sentam-se junto ao balcão de um
lugar abarrotado de uma variedade comidas, aparentemente deliciosas e
não pensam duas vezes antes de começar a comer. A menina permanece
irritada e desconfiada com tudo aquilo. Enquanto os pais comem,
Chihiro decide perambular pela cidade quando, na frente de um grande
prédio vermelho dá de cara com um rapaz, que a alerta para sair
dali antes que escureça. As luzes da cidade começam a ascender e
por toda parte espíritos negros começam a emergir. Chihiro corre ao
encontro dos pais e encontra dois porcos no lugar deles. Tudo têm a
atmosfera de um sonho, e a garotinha se sente totalmente perdida e
indefesa.
No
seu caminho de desesperado surge o rapaz que lhe alertou, cujo nome é
Haku. Haku aconselha Chihiro a procurar Kamaji, o foguista da casa de
banhos da bruxa Yubaba e então pedir a ele um trabalho, e no caso de
ouvir uma recusa, que ela insista, pois naquele mundo fantástico e
traiçoeiro, os seres humanos sem utilidade são transformados em
animais e depois são mortos. Frente a frente com Yubaba, uma
feiticeira vaidosa e maligna, Chihiro têm de assinar um contrato e
dar seu nome em troca da oportunidade de emprego. Yubaba rouba o nome
da garota, passando a chama-la de Sen. Haku, que é o braço direito
de Yubaba, é um rapaz bom na essência, alguém aprisionado pelas
circunstancias e pelo mal que emana da extravagante feiticeira, e de
alguma forma parece se enamorar de Chihiro, pois a ajuda a se adaptar
a difícil tarefa de faxineira na casa de banhos.
O
lugar é exótico e grandioso, pois atende entidades extraordinárias,
conhecidas como Deuses. A garotinha sofre com a rejeição das
criaturas ali, mas aos poucos vai sendo integrada a rotina deles,
caindo nas graças de todos quando atende um cliente que emana
fluidos podres e que revela-se depois um importante deus, que dá
status e riqueza ao lugar. Essas são as cenas mais engraçadas do
filme, pois as figuras que trabalham e vivem na casa de banhos são
ao mesmo tempo ridículas e hilárias, incluindo o bebê gigante e
mimado, filho de Yubaba, que Zeniba irmã gêmea desta transforma em
um hamster adorável. Nesse conflito entre as duas irmãs
feiticeiras, Haku que frequentemente se transforma em um dragão
oriental para realizar os serviços da patroa, acaba ferido e Chihiro
tem de partir em busca de ajuda.
A
amizade de Haku e Chihiro é algo definido pelo destino. Eles se
encontraram no passado em circunstancias especiais, e sem reencontram
aqui, guiados por um centelha transcendental de amor e proteção
mutua. As relações que Chihiro cria são todas especiais e reflete
o quanto ela é uma menina especial, seja a amizade com Zeniba, ou a
intimidante relação com um espírito atormentado, até o passarinho
que cuida do hamster-bebê. Trata-se de uma obra-prima da animação
e que fala com delicadeza sobre os perigos do egoísmo e da
arrogância. Chihiro têm de fazer essa viagem cheia de infortúnios
para aprender a valorizar sua vida e Yubaba, a vilã da historia têm
de encarar o sumiço de seu bebê e a ameaça de sua irmã para poder
reavaliar sua posição como tirana. Tudo conspira para o
desenvolvimento pessoal e nada resume o filme tão bem como uma das
ultimas frases de Haku: “Vá e não olhe para trás”.
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