Em um acidente tão estúpido quanto escabroso, Eric Chant, conhecido por todos como Gato, e sua irmã mais velha Gwendolen, perdem os pais. Sem terem conhecimento de nenhum parente próximo, os dois são abraçados pelos habitantes da monótona Wolvercote como um patrimônio histórico, do qual todos têm orgulho e para os quais todos dirigem cuidados prestimosos. Atenção dobrada, porém, recebe Gwendolen, por ser uma garotinha luminosa como um dia de sol e por ser reconhecidamente uma bruxa com poderes faraônicos. Não que isso seja algo muito incomum no universo em que se situa a trama de “Vida Encantada” obra homônima da inglesa Diana Wynne Jones escrita em 1977. Bruxas, magos e necromantes caminham pelas ruas e conversam nas esquinas, mundos paralelos se misturam e o ar vive impregnado pelo cheiro da magia.
O romance prima pelo cuidado com que desdobra o mistério envolvendo a vida de seu protagonista Gato, um garoto de encanto genuíno, humilde, generoso e de uma lealdade comovente para com a irmã. Tão leal, que nem percebe que Gwendolen é uma pessoa pura e completamente má, para quem ambições insípidas como “governar o mundo” é apenas um dever de casa. Hospedes da riponga Sra. Sharp, os irmãos são logo convidados pela nobreza local, representada pelo mago Crestomanci para morar em um castelo.
Gwendolen, cuja exploração desimpedida do irmão a certifica de estar sempre a frente em tudo, logo enxerga uma oportunidade dourada de aprimorar seus poderes e aceita o convite. O que não imagina, contudo, é que a educação e principalmente a conduta no castelo sejam restritas quase que sempre a sobriedade e o decoro. O confronto é inevitável.
Gwendolen vai se valer de todos os truques que sua infantilidade possa promover para boicotar a convivência com os habitantes de seu novo lar, inclusive o casal de filhos de seu tutor, Roger e Julia e também seu professor Michael Saunders, que a impede de receber aulas de bruxaria. No meio dessa guerra incômoda em que nunca se pode intuir quem possui a carta maior na manga, Gwendolen encontra uma solução deveras depravada para não perder a pose e parte para outro mundo, deixando em seu lugar uma pessoa fisicamente idêntica a ela, mas que na verdade é alguém de carne e osso que foi tirada a força de seu próprio universo; trata-se de Janet, que vêm do século XX e trás na bagagem a gana feminista de emancipação e um espírito livre e doce, que logo é revelado a Gato.
Nesse cruzamento de historias, a escritora revela sua maestria, seduzindo o leitor para o brilhante personagem da venenosa Gwendolen, para depois descarná-la em uma criação completamente diferente e reveladora com Janet. Esse trabalho, tão crível e humano em sua essência é um dos grandes valores de “Vida Encantada”, pois responde á altura não apenas aos demais personagens, como também a razão de ser de uma historia fantasiosa, mas que em seus elementos trás muito do que existe de real: a ambição desmesurada, o egoísmo e também a redenção, a dignidade e o respeito. Apenas dessa maneira se pode compreender e distinguir este livro, de outros como “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis”. Em certo ponto de “Vida Encantada”, Gato acorda para seus poderes como um adolescente acorda para a vida adulta, no auge de sua juventude e capacidade; é a mudança de estação que é tão lindamente apresentada no desfecho, quando ele e Janet encontram-se em uma encruzilhada. Mesmo em um lugar permeado pelas mágicas fáceis, tomar decisões importantes também é muito difícil.
Respondendo sua postagem na minha resenha sobre o livro "O Legado da Caça-vampiros", eu queria dizer que realmente livros, filmes, etc de vampiros sempre estiveram por ai há anos.
ResponderExcluirEu mesma li Drácula de Bram Stoker pela primeira vez, há uns 14 anos. O que digo que mesmo sempre existindo, nunca esteve tão em alta como agora.
Tem livrarias com sessão especial vampiresca (pelo menos aqui em São Paulo), com dezenas e mais dezenas de livros literários de todos os tipos que você imaginar sobre vampiros.
Antigamente eram mais os clássicos, depois veio Anne Rice com seus vampiros bonitos e hoje temos de românticos a porpurinados.
Bom, é isso.
Regiane
Ler e Almejar