Cisne Negro (Black Swan, 2010)


 Se tornou quase impossível para mim assistir “Cisne Negro” e não escrever sobre ele. Até porque era um dos lançamentos do ano que estava mais ansioso para ver e quando enfim consegui me dei conta do porque da minha expectativa. É um filme completamente absorvente. Muitas pessoas não irão gostar – e isso é um fato que já constatei, já que muitos de meus amigos fizeram cara feia para o drama dirigido por Darren Aronofski (diretor de “Pi”, “Réquiem para um Sonho”, “O Lutador” e ex-marido de Rachel Weisz).

Sempre gostei da história de O Lago dos Cisnes, lembro-me de ler um livrinho das minhas primas que tinha o conto. Mas a trama do filme é a captura precisa e embriagante das sombras sobre a personalidade de uma pessoa. Nina, a protagonista, é tão frágil, tão dependente e ingênua que muitas vezes sentimentos vontade de protegê-la, abraçá-la e lhe mostrar o caminho. É uma pessoa tão singela que até se teme pelo que os sonhos frustrados possam fazer com ela. Bailarina perfeccionista, mas que reprime a maturidade, dormindo em um quarto feito para uma criança, uma princesinha, Nina é tratada com um cuidado sufocante pela mãe (vivida por Barbara Hershey). Dançando no Balé de Nova Iorque, Nina sabe que já não é tão nova, sabe que as chances estão lhe escapando pelos dedos e por isso mesmo, por esse senso de desespero se apresenta nos ensaios com um grau calculadíssimo de técnica e anseio. Seu coreógrafo Thomas diz o que está evidente: de tanto Nina ser uma figura delicada ela é a escolha perfeita para o papel do Cisne Branco na produção de O Lago dos Cisnes, mas é improvável que ela consiga encarnar o avesso dessa personagem, o Cisne Negro.

É fácil se identificar com Nina. Seu esforço lembra-nos aquela vontade que temos de conquistar algo, quando tudo conspira pra que não consigamos. É maravilhosa a cena em que ela descobre ter sido escolhida para o papel que tanto almejava – o de Swan Queen – aquele em que tem que se dividir entre o Cisne Branco e o Negro, duas personalidades totalmente opostas que lutam dentro de uma única bailarina. Pressionada, empurrada e humilhada Nina tenta ir além de seus limites e aos poucos aquilo que evitou a vida toda começa a surgir: a sexualidade, a extroversão, a simpatia. Mas essa revelação cobra também um preço muito caro. Cada episódio de euforia vem acompanhado de outro de delírio na imaginação frenética de Nina.

Darren Aronofski é um diretor tão preciso na dramatização desse mergulho nas trevas que muitas vezes o expectador se sente levado para dentro daquela ilusão. Os números de balé têm um efeito inédito de levar a câmera para bem perto do dançarino. O elenco é um show, espetáculo mesmo. Desde a ponta perturbadora de Winona Ryder até o trabalho eroticamente lapidado da esfuziante Mila Kunis.

Obviamente não há como falar sobre o filme e não mencionar a interpretação de Natalie Portman, que conseqüentemente já vem carregada de todos os adjetivos possíveis: estupenda, inebriante, soberba, precisa, magistral. É, enfim, o reconhecimento de uma carreira que já vinha pedindo por reconhecimento há muito tempo, mais precisamente pela época de “Closer” e “Free Zone”. É uma atriz com maiúscula, atriz mesmo, que é capaz de despertar todo tipo de sentimento no público. E quando essa atriz, na pela dessa bailarina enfim faz vir à torna seu lado negro, na cena em que desponta como o cisne terrivelmente sensual e perigoso, perto do desfecho do filme, entendemos porque Natalie fez o raspa na maioria das premiações, levando inclusive o Oscar. 




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