CRIMES DO CORAÇÃO (CRIMES OF THE HEART)
Não vou esconder que fiquei frustrado a primeira vez em que assisti a este filme. Eu esperava uma comédia arrasadora, com vários momentos inusitados e um banho de risos por parte do trio principal de atrizes. Afinal, foi um filme indicado ao Oscar e a uma dezena de outros prêmios e que tinha inclusive dado um Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia para Sissy Spacek. As primeiras impressões são importantes, pois a partir delas é que refletimos a fundo e chegamos a conclusões secundarias. No caso de “Crimes do Coração” a primeira impressão foi um banho frio, geladíssimo.
Porém, como muitas coisas em nossa vida, precisamos de certo tempo e espaço para entender os detalhes. É de se levar em conta que o filme tem uma dezena de defeitos e possivelmente o mais obvio é a direção desajeitada de Bruce Beresford e o roteiro algo meloso e pouco inspirado de Beth Henley. Aqui há carência de tudo, e passamos metade do filme tentando entender a que gênero ele pertence. Eu me decidi pelo drama.
Lenny Magrath (Diane Keaton) já beira os quarenta anos, viveu para cuidar do avô e provavelmente por não ter tido quem lhe indicasse o caminho se tornou uma mulher ao mesmo tempo instável, infantilizada e tremendamente frágil. Mora em uma cidadezinha que é um cafundó, enfiada no interior do interior dos Estados Unidos e sofre constantes alfinetadas de Chick (Tess Harper, uma das boas coisas do filme), sua prima muito cansativa cujo passatempo predileto e se intrometer em sua vida. Lenny é tão solitária que não tem com quem comemorar o próprio aniversario e na falta de um bolo, coloca uma vela em cima de um biscoito e que canta parabéns sozinha, na cozinha de casa.
A ocasião marca a volta de Meg (Jessica Lange), que foi embora dali a muito tempo para tentar a carreira de atriz e cantora. A cena da chegada de Meg, e seu olhar quando ainda está no ônibus é um colosso. Percebe-se uma gama de emoções perpassando o rosto dela, desde frustração, amargura, até nostalgia e uma alegria inominável de retornar ao lar. Meg é a irmã do meio de uma família que há muito tempo se esfacelou.
A terceira e mais jovem das irmãs é Babe (Sissy Spacek) que foi presa, acusada de ter atirado no marido. Babe parecia à única com uma vida plena para chamar de sua, mas acabou se tornando a mais perdida do trio. Oscila entre momentos de alegria e outros de desespero profundo, não sabe o que fazer com a culpa pelo relacionamento adultero com um garoto negro de 15 anos, e pelo fato de ter sido esse o motor de seu ato extremo e da sua responsabilidade diante do estado do marido.
Nesse cenário de perdas, reencontros e rupturas as irmãs tentarão acertar as contas com o passado, com aquela solidão que sempre as acompanha – e que nasceu do fato da mãe delas ter cometido suicídio – e com o preço a pagar pelas escolhas feitas ou não feitas. É de uma profundidade intensa, mas que infelizmente não é aproveitada pelo diretor e que o roteiro só faz diluir em situações desnecessárias.
Não é de se estranhar, portanto, que o elenco carregue o filme nas costas. Diane Keaton está muito bem como a atrapalhada e esperançosa Lenny, apesar de eu contar com algumas cenas dela particularmente canastras. Jessica Lange dispensa comentários. Sua Meg é tão apaixonante e espontânea que conquista instantaneamente. Já Sissy Spacek é um deslumbre. Sua grande cena chega quando o marido anuncia por telefone que pretende interná-la em manicômio e ela desnorteada tenta se matar de diversas formas, sem ter sucesso em nenhuma delas. Essa cena salva o filme. Acredito que por essa seqüência Spacek tenha chamada a atenção da Academia e recebido a Indicação ao Oscar.
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